Por Gustavo Frasão
O que parecia um pesadelo congelado no tempo da Guerra Fria volta a assombrar o mundo com força renovada. Em pleno século XXI, quando se esperava que a tecnologia e a diplomacia nos tivessem afastado de soluções brutais e arcaicas, a humanidade volta a brincar com o risco de um colapso global. A ameaça de uma Terceira Guerra Mundial – desta vez, com potencial nuclear – deixou de ser teoria de livro de história ou ficção científica de filmes para se tornar uma possibilidade concreta, palpável e assustadoramente próxima na vida real.
Do Oriente Médio à Europa, passando pelos tabuleiros geopolíticos de Washington, Moscou, Pequim e Teerã, os ventos da guerra sopram mais forte do que em qualquer outro momento das últimas décadas.
No epicentro das atenções, a escalada entre Israel e Irã ganha contornos cada vez mais perigosos. Desde o início da “Operação Rising Lion”, há cinco dias, Israel tem intensificado ataques cirúrgicos a alvos nucleares e militares iranianos. O Irã, por sua vez, responde a altura com mísseis e enxames de drones, num ciclo de provocações que ameaça sair do controle. Milhares de vidas ceifadas e de inocentes feridos.
Analistas temem que, diante de um Irã cada vez mais próximo de alcançar capacidade nuclear, Israel considere recorrer a armas nucleares táticas – um cenário que poderia envolver Estados Unidos, Rússia, China e outras potências nucleares em uma reação em cadeia de consequências imprevisíveis e irreversíveis.
Quase simultaneamente, na Europa, a guerra entre Rússia e Ucrânia caminha para um ponto de inflexão. O Kremlin, pressionado por sucessivas derrotas e com um dos maiores arsenais nucleares do planeta, mantém a ameaça velada – mas real – de recorrer a armamentos táticos caso sinta que sua posição estratégica está em risco.
A simples detonação de uma arma nuclear no território ucraniano seria suficiente para acionar a OTAN, escalando o conflito para um confronto direto entre potências nucleares. Seria o colapso da doutrina de dissuasão que, por mais frágil que seja, tem funcionado como último freio moral e político desde 1945.
O retrocesso da humanidade: a tecnologia a serviço da destruição
É paradoxal – e profundamente triste – que, em uma era de avanços científicos e tecnológicos, a humanidade ainda recorra a estratégias militares dignas de tempos medievais, apenas trocando espadas por ogivas de destruição em massa.
Os arsenais nucleares são, por definição, uma tecnologia ultrapassada do ponto de vista ético e civilizatório. Sua simples existência é um monumento à falha diplomática crônica da comunidade internacional e, se hoje já é difícil imaginar os efeitos humanitários e ambientais de uma única explosão nuclear, o cenário de uma guerra em larga escala beira o apocalíptico.
Por outro lado, estudos científicos recentes apontam que o uso de poucas dezenas de ogivas já seria suficiente para lançar o planeta em um inverno nuclear: o bloqueio da luz solar por meses, com quedas bruscas nas temperaturas e colapso nas safras agrícolas. O resultado seria fome em escala global, com a morte de bilhões de pessoas – a maioria longe dos campos de batalha.
E os efeitos não param por aí: contaminação radioativa, aumento exponencial de casos de câncer, má-formações congênitas, impactos psicológicos coletivos e um retrocesso civilizatório com dimensões sem precedentes.
Diplomacia ou desastre: o que nos resta?
O mundo caminha perigosamente sobre uma corda bamba geopolítica. As potências que hoje têm o poder de evitar esse desastre são as mesmas que, por interesses estratégicos ou por orgulho nacional, muitas vezes alimentam a escalada.
Os Estados Unidos seguem presos à sua doutrina de dissuasão, enquanto a Rússia adota uma postura de ambiguidade calculada. No Oriente Médio, Israel reforça sua retórica de autodefesa e o Irã avança em seu programa nuclear como resposta às sanções e pressões externas.
Em meio a tudo isso, sobra à humanidade a esperança – cada vez mais frágil – de que o diálogo, a diplomacia e o bom senso prevaleçam sobre o egoísmo e a arrogância geopolítica.
A História já mostrou o preço da guerra. A pergunta agora é: será que aprendemos alguma coisa?
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