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Quanto vale uma vida?

Uma reflexão sobre o acidente fatal no metrô de São Paulo e o ritmo desumano da vida moderna

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Por Gustavo Frasão

Na manhã de ontem, 6 de maio de 2025, por volta das 8h, uma tragédia marcou mais um dia comum no metrô de São Paulo. Um homem perdeu a vida ao ficar preso entre as portas de um vagão. Testemunhas relatam que ele provavelmente estava atrasado para o trabalho e, em meio ao desespero, correu para tentar embarcar de qualquer jeito. Não conseguiu. O trem partiu com ele prensado e o que deveria ser apenas mais uma manhã de correria transformou-se em um desfecho trágico.

Essa morte, que poderia ter sido evitada, escancarou de forma brutal a urgência com que temos vivido. Quantas vezes já não corremos para alcançar o transporte, para bater o ponto, para cumprir uma obrigação — por medo de uma advertência, de um desconto no salário ou, em casos mais extremos, da perda do emprego?

A pergunta que ecoa é: compensa?

O que mais chocou não foi apenas a tragédia em si, mas a rapidez com que a rotina foi retomada. Em apenas 25 minutos, a linha de metrô já operava normalmente. A vida daquele homem — seus sonhos, seus medos, suas histórias, sua família — foi reduzida a um número, um contratempo logístico, um obstáculo momentâneo no funcionamento do sistema. E, provavelmente, onde quer que ele trabalhasse, seu lugar já está sendo ocupado.

É difícil não se revoltar. Nos metrôs e ônibus superlotados do Brasil, onde o espaço é mínimo e a dignidade, por vezes, inexistente, milhões enfrentam diariamente esse mesmo percurso. Mas será que precisaria ser assim? Quantas dessas pessoas poderiam, com estrutura e confiança, estar trabalhando de casa? Quantas empresas insistem em manter a presença física apenas por cultura de controle ou desconfiança, mesmo quando a produtividade pode ser igual — ou maior — no modelo remoto?

Infelizmente, vivemos em um sistema que nos empurra para a exaustão. Para muitos, a vida virou uma corrida permanente contra o relógio. Um erro de cálculo de minutos pode custar uma bronca. No caso desse homem, custou a vida.

E o mais triste: quase ninguém ficou sabendo. Como jornalista, espanta-me o silêncio da mídia. A invisibilidade da tragédia mostra o quanto estamos acostumados a naturalizar o inaceitável. O que acontece quando uma vida vale menos que a pontualidade de uma linha de metrô?

Não há resposta simples. Mas há algo que não pode ser ignorado: esse não pode ser o nosso normal.

Que essa reflexão não se perca. Que essa vida não seja só mais um número.

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