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Brasil e Indonésia prometeram resgate, mas entregaram a morte: Juliana morreu à vista do mundo

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Por Gustavo Frasão

O que era para ser uma corrida contra o tempo terminou da pior maneira possível nesta terça-feira (24/6). Após quatro dias de espera solitária, exposta ao frio, à fome e ao abandono, a brasileira Juliana Marins, de apenas 26 anos, não resistiu. Sua morte foi confirmada pela família, por meio de uma postagem no perfil criado para acompanhar o caso.

Juliana caiu durante uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia, no último sábado (21/6). Desde então, permaneceu presa numa vala profunda, a cerca de 500 metros de onde o grupo caminhava. O socorro só chegou quatro dias depois. Tempo demais para quem dependia de urgência.

Essa tragédia não foi apenas fruto de um acidente geográfico. Foi, acima de tudo, um fracasso institucional. O que matou Juliana não foi só a queda. Foi o tempo perdido, a desorganização, a falta de estrutura, a incompetência logística e a desinformação oficial. Foi o descaso com a vida humana. Faltou também vontade política real — de quem tinha poder de mobilizar uma resposta à altura.

Desde as primeiras horas, o que se viu foi uma sequência de erros grosseiros: informações falsas divulgadas pelas autoridades indonésias, reproduzidas sem checagem pelo governo brasileiro, operações interrompidas por despreparo diante das condições climáticas e uma ausência quase total de protocolos de emergência eficientes.

O Brasil demorou a reagir. A Embaixada em Jacarta só enviou representantes ao local após forte pressão pública. Antes disso, limitou-se a replicar os mesmos boletins imprecisos vindos da Indonésia, alimentando a confusão e as falsas esperanças.

Enquanto isso, a única fonte confiável de informações foi a própria família de Juliana, que transformou o Instagram em central de crise, mantendo o mundo informado com coragem, dor e senso de responsabilidade que faltou às autoridades.

Juliana morreu sozinha, sem água, sem comida, sem agasalho, sem um rosto conhecido ao seu lado. Morreu esperando um resgate que nunca chegou a tempo.

As justificativas para a demora foram muitas: chuva, terreno instável, falta de luz, risco às equipes. Mas a verdade nua e crua é que faltou preparo, faltou estrutura, e principalmente, faltou prioridade política.

Cerca de 48 profissionais de diferentes órgãos indonésios participaram das buscas. Mas com que equipamentos? Com que planejamento? O histórico do Parque Nacional do Monte Rinjani, que já acumula 180 acidentes e oito mortes nos últimos cinco anos, escancara que esta não foi a primeira tragédia e, se nada mudar, não será a última.

A pergunta que ecoa desde o início da tragédia permanece:

Se Juliana fosse cidadã dos Estados Unidos, Alemanha ou Austrália, teria passado quatro dias abandonada num buraco, esperando um resgate que nunca vinha?

A resposta, infelizmente, é previsível.

Juliana era brasileira, mochileira, jovem, sem representatividade política. Sua vida não mobilizou protocolos de emergência internacionais, não gerou força-tarefa diplomática, não provocou uma resposta de guerra, como tantas vezes acontece com cidadãos do Norte Global.

A morte de Juliana não pode cair no esquecimento. O Brasil precisa olhar com seriedade para sua política de proteção consular. Não basta ostentar números sobre o tamanho da rede diplomática. É preciso garantir que cada brasileiro, em qualquer lugar do mundo, tenha direito a uma resposta rápida, eficiente e humana quando a vida estiver em risco.

A Indonésia, por sua vez, precisa urgentemente rever a estrutura de segurança e resgate nas trilhas de alto risco como a do Monte Rinjani. Os números de acidentes e mortes não mentem.

Juliana era mais que uma estatística. Era uma jovem cheia de vida, artista, dançarina, criadora de conteúdo. Viajou o mundo com coragem e alegria. Agora, virou vítima de um sistema que falha quando mais importa.

O Brasil perdeu uma cidadã. A Indonésia perdeu a credibilidade. O mundo perdeu uma vida que poderia ter sido salva.

Que a gente não perca também a capacidade de exigir justiça, mudanças e, acima de tudo, humanidade.

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